Sou velho...

Sou velho... tolhido e tremido pela vida,
Um trapo absorto numa viela esquecida,
Sou um velho, de olhar perdido no tempo...
Sou assim porque apenas assim me suporto e aguento,

Sou velho... porque os anos já passaram demasiado por mim,
e de mãos tremulas acredito infantilmente que ainda precisam de mim,
Sou levado e divago pelos pensamentos que insistem em ser lembranças,
Que sou eu se não um monte infundado de esperanças?

Planos? sou velho... não tenho tempo para nada,
e é isso que me ocupa o tempo, e mal tratada,
Continua a memória a memoria daquilo por que passei,
porque passado já não, presente não sei e futuro não terei.
Apenas queria não esquecer aquilo que ainda sei.

Sou velho... um empecilho p'raí esquecido, como uma encomenda,
Daquelas que nunca chega ao destino... ahh.. agora já não tem emenda!
Oiço os passos ao fundo que me gritam aos ouvidos a visita,
Quando olhares para mim serei um velho com a vida circunscrita.

Já nem velho sou... nem humano apenas a lembrança de alguém,
Quantas gerações durarei? uma? duas talvez?
Assim que se esgotar o que ensinei, morrerei de vez.

1 comentários:

Beatriz 9:23 da tarde  

Se o ultimo poema que me mostraste não o amei, pois este preencheu a falta e encheu.me o coração de um sentimento estranho, algures entre a ternura e uma imensa gratidão por colocares em palavras algo tão precioso quanto a velhice. No teu poema, revi os meus avós, os dois pilares da minha existência, a quem devo quase tudo o que sou hoje. Mostras a velhice não como um castigo, algo de mau, mas um desenvolvimento nobre, a oportunidade de partilhar o saber de uma vida, e isso é simplesmente lindo!

Mais uma vez, obrigada por partilhares a tua arte!

Beijo*